07/05/2021

CONFRONTOS. Cali,na Colômbia,sob estado de emergência CONFRONTOS. Cali,na Colômbia,sob estado de emergência





O prefeito da cidade de Cali, epicentro dos protestos que tomaram a Colômbia há mais de uma semana e deixaram ao menos 24 mortos e 846 feridos, declarou estado de emergência na cidade por três meses, prazo que pode ser prorrogado. Segundo o decreto do prefeito Jorge Iván Ospina, a medida foi tomada para “satisfazer as necessidades da população e fortalecer as ações que visam a proteção dos moradores de Cali”. Na noite desta quinta, a ONG Unidade de Busca de Pessoas Desaparecidas da Colômbia, além de 26 grupos de defesa dos direitos humanos, apontaram que o número de desaparecidos é de 379, muito acima dos 89 declarados mais cedo pela Defensoria Pública.

A violência dos protestos contra o governo colombiano estourou na cidade de 2 milhões e duzentos mil habitantes, uma das mais pobres do país, chamada de “capital do pós-conflito” e onde o acordo de paz assinado com a ex-guerrilha das Farc, em 2016, não trouxe a calma esperada. Desde o início das manifestações contra a proposta de reforma tributária apresentada pelo presidente Iván Duque — já retirada da pauta no Congresso —, a cidade registrou vários distúrbios, que foram duramente reprimidos pelas forças de segurança.

— Há fortes boatos nos últimos dias de que a medida seja o primeiro passo para que o governo decrete estado de comoção interior [estado de sítio] no país, o que daria muito poder a Duque e levaria a uma situação perigosa —  explica Oscar Hemberth, historiador e jornalista colombiano. — Com isso, a polícia passaria a ter poder total contra os manifestantes.

De acordo com a Defensoria pública, que contabilizou as 24 mortes nos protestos, 17 delas ocorreram no departamento (estado) de Valle del Cauca, onde fica Cali. Kevin Agudelo, de 22 anos, foi uma das vítimas. Ele participou, na segunda-feira, de um ato em Siloé, uma favela da cidade. Sua mãe lembra que ele prometeu não chegar perto dos “tumultos”. Foi a última vez que ela o viu vivo.

— Ele me disse que iria marchar pelo bem-estar da Colômbia — diz Angela Jiménez, entre soluços, durante entrevista à AFP.

De acordo com 12 depoimentos coletados pela agência, a tropa de choque e as forças especiais atacaram o protesto pacífico. Agudelo foi morto junto com duas pessoas, todas baleadas, segundo comprovam fotos e vídeos publicados nas redes sociais.

Redação com Sistema Globo