24/04/2021

Sequelas da covid-19 prejudicarão saúde do brasileiro por pelo menos uma década Sequelas da covid-19 prejudicarão saúde do brasileiro por pelo menos uma década





O fim da pandemia de coronavírus nem aparece ainda no horizonte, mas já está claro para muita gente que os impactos serão sentidos por muitos anos mesmo quando a circulação do vírus estiver controlada no mundo.

Na área da saúde pública, esse cenário crítico deve durar pelo menos uma década, estima Suzana Lobo, diretora-presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), em entrevista à BBC News Brasil. O problema, segundo ela, se agrava ainda mais por causa das desigualdades de acesso a saúde no Brasil, tanto regionais quanto socioeconômicas.

"O serviço de urgência e emergência vai sofrer muita pressão tanto pelos problemas prévios dessa desigualdade de distribuição de leitos como o que a gente vê pela frente, que vai ter outras ondas, vai ter agravamento de comorbidades dos sobreviventes da covid, a desassistência provocada pela restrição de acesso a pacientes que não foram ao hospital porque tinham medo, doenças psicossomáticas, condições crônicas agudizadas... Os desafios do Brasil para a próxima década são enormes", enumera Lobo.

Em sua avaliação, muitos países ricos também não estavam preparados para enfrentar a pandemia, mas "o que faz a diferença é depois você virar a chave e começar fazer as coisas certas". No curto prazo, Lobo defende o controle do espalhamento da doença na população, com medidas como restrições à circulação de pessoas "na hora certa e no local certo, onde os leitos estão saturados" e uso obrigatório de máscara.

No médio e no longo prazo, as saídas passam por pontos como redução de desigualdades e a ampliação do número de profissionais capacitados para atender às novas demandas da pandemia, conforme diagnóstico apresentado por ela e outros colegas ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

O principal obstáculo é obviamente financeiro. A falta de recursos para a saúde ante uma demanda crescente será potencializada pelo aumento do rombo nas contas públicas e pela emenda constitucional do teto de gastos, que limitou o aumento de despesas públicas até 2030.

Um ano antes da pandemia, um estudo publicado no periódico BMC Medicine já apontava que a restrição financeira em programas de atenção primária poderia levar a quase 30 mil mortes evitáveis no país.

A BBC News Brasil lista abaixo quatro desafios importantes de saúde pública para o país nos próximos meses e anos, além da falta de verbas.

- Milhares de pacientes com sequelas da covid-19;

- Demanda reprimida de cirurgias eletivas que foram canceladas na pandemia;

- Impacto negativo no tratamento de doenças como câncer;

- Vacinação lenta e novas ondas de infecção.

1. Sequelas da covid e o mito dos 'recuperados'

Em um dado momento da pandemia, quando o número de mortes por covid no país já passava de 100 mil (hoje são 365 mil), o governo de Jair Bolsonaro decidiu a exaltar diariamente o número de "recuperados" da doença.

O objetivo da estratégia, considerada negacionista por especialistas, era fazer frente a uma "cobertura maciça de fatos negativos", como chegou a dizer o ministro da Secretaria de Governo, o general da reserva Luiz Eduardo Ramos.

Redação com BBC/Brasil e Reuters