04/10/2020

Papa Francisco diz que vírus do individualismo é o mais difícil de derrotar Papa Francisco diz que vírus do individualismo é o mais difícil de derrotar




Foto: Arquivo/Redes sociais  -  

O papa Francisco denunciou as desigualdades e o “vírus do individualismo” em sua nova encíclica, intitulada “Fratelli tutti” (Todos irmãos), que foi divulgada neste domingo, 4. No texto, ele pede o fim do “dogma neoliberal” e exorta a fraternidade “com feitos e não só com palavras”.

Em sua terceira encíclica, de 84 páginas, o pontífice argentino retoma os temas sociais abordados ao longo de seus sete anos e meio de pontificado e reflete sobre um mundo atormentado pelas consequências da pandemia do novo coronavírus.

“A especulação financeira com a ganância fácil como fim fundamental segue causando estragos”, adverte. Ele acrescenta que “o vírus do individualismo radical é o vírus mais difícil de derrotar”.

No documento, Francisco enfatizou um pedido que já fez em suas viagens a países mais pobres e esquecidos. “É possível aceitar o desafio de sonhar e pensar em outra humanidade. É possível ansiar por um planeta que garanta terra, abrigo e trabalho para todos.”

Em sua nova encíclica, o pontífice reivindica o direito de todo ser humano de viver “com dignidade e se desenvolver plenamente” e recorda que a pandemia evidenciou a incapacidade dos líderes de atuar conjuntamente em um mundo falsamente globalizado. “A fragilidade dos sistemas mundiais frente às pandemias tem evidenciado que nem tudo se resolve com a liberdade de mercado”, enfatiza.

“Vimos o que aconteceu com as pessoas idosas em alguns lugares do mundo por causa do coronavírus. Não tinham de morrer assim (…), cruelmente descartadas”, lamenta.

Vinicius de Moraes

Em um trecho em que abordou a construção de uma nova cultura a partir da convivência entre as diferentes faces da sociedade, o papa Francisco citou um trecho de “Samba da Bênção”, do poeta e compositor Vinicius de Moraes: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida”. Ele destaca a necessidade de uma cultura do encontro “que supere as dialéticas que colocam um contra o outro”.

“Isto implica incluir as periferias. Quem vive nelas tem outro ponto de vista, vê aspectos da realidade que não se descobrem a partir dos centros de poder onde se tomam as decisões mais determinantes.”

Nova ética nas relações internacionais

Em sua encíclica mais social, após reiterar sua oposição à “cultura dos muros”, o papa exorta uma nova ética nas relações internacionais.

“Uma sociedade fraternal será aquela que promova a educação para o diálogo a fim de derrotar o ‘vírus do radicalismo individual’ e permitir que todos deem o melhor de si”, destaca. “O mundo de hoje é principalmente um mundo surdo”, aponta o pontífice, que também pede uma reforma estrutural das Nações Unidas, reitera a total oposição da igreja à pena de morte e fala que a dívida externa dos países “deve ser paga, mas sem prejuízo ao crescimento e à subsistência dos países mais pobres.”

Na encíclica, o papa defende o diálogo e a busca por novos caminhos para chegar à reconciliação entre os povos.

“Não é possível decretar uma ‘reconciliação geral” pretendendo fechar por decreto as feridas ou cobrir as injustiças com um manto de esquecimento.”

O pontífice observa que muitos “ateus cumprem melhor a vontade de Deus do que muitos crentes”, um tipo de advertência aos numerosos políticos em todos os continentes que se sentem “autorizados por sua fé a apoiar diversas formas de nacionalismos fechados e violentos, atitudes xenófobas, desprezo ou mesmo maus-tratos com os que são diferentes.”

Redação com Agência Estado