05/04/2020

Retidos em navio na Itália,brasileiros relatam pesadelo Retidos em navio na Itália,brasileiros relatam pesadelo





Eles estão isolados em suas cabines há doze dias, reclamam de falta de assistência e podem ter de cumprir mais uma quarentena em Milão


A pediatra Lara Junqueira Zacaron tinha acabado de se formar pela Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora, após dois intensos anos de residência, com plantões redobrados na Santa Casa de Misericórdia, também em Juiz de Fora. Ela e o marido Vitor Santos Mockdece, empresário, ambos de 26 anos, estavam juntando dinheiro para realizar a viagem dos sonhos, a da lua de mel. Começaram nas Ilhas Maldivas, passaram por Dubai e depois embarcaram no cruzeiro Costa Victoria. Teriam mais 22 dias de celebração entre Omã, Israel, Jordânia, Grécia, Croácia e Italia.

Navio Costa Victoria, atracado em Civitavecchia: passageiros de outras nacionalidades já desembarcaram mas os brasileiros, 10 turistas, e seis tripulantes, ainda estão confinados. Foto: GUGLIELMO MANGIAPANE / REUTERS

Navio Costa Victoria. Retido na Itália

A viagem do cruzeiro teve início no dia 29 de fevereiro em Mumbai, na Índia, e tinha previsão para chegar ao fim no último sábado, em Veneza. Eles embarcaram em Dubai, no dia 7 de março.

— Mas a lua de mel virou um pesadelo — conta Lara, por telefone, de dentro da sua cabine onde está em isolamento desde o dia 23.

O cruzeiro Costa Victoria está atracado no porto de Civitavecchia, na Itália após única parada turística em Omã e outra, na Grécia, apenas para o desembarque de uma passageira, argentina, que estava com os sintomas da Covid-19. Seu teste teria dado positivo e desde então todos os passageiros do navio entraram em isolamento. Eles foram impedidos de desembarcar porque a Itália fechou seus portos a embarcações estrangeiras para tentar evitar a propagação do novo coronavírus.

Lara diz que a empresa lhe informou que haviam entrado em contato com o governo brasileiro para repatriá-los mas até agora não obteve nenhuma informação concreta sobre o processo.

Ela e o marido estão confinados em sua cabine há 12 dias. Recebem três refeições por dia, na porta do quarto, e não podem circular pelo navio. As únicas vezes que saem do isolamento são para medir a temperatura, diariamente, em um grande salão, sob supervisão das autoridades sanitárias do país.

Ela manteve contato com outros brasileiros que estão a bordo por WhatsApp. Ao todo, são 16 brasileiros, sendo seis tripulantes (segundo o Ministério das Relações Exteriores). Lara conta que, por sorte, sua cabine tinha janela mas que não era o caso de todos eles — após reclamações e divulgação de videos nas redes sociais, eles foram levados para cabines com varanda e com mais conforto.

Na última sexta-feira, o Cônsul-Geral do Brasil em Roma, Afonso Carbonar, acompanhado de funcionário diplomático do consulado, esteve em Civitavecchia para conversar com os brasileiros retidos e com as autoridades italianas competentes.

Questionado, o Ministério das Relações Exteriores disse que "acompanha com atenção a situação dos 10 viajantes e 6 tripulantes brasileiros a bordo do Costa Victoria".

Redação com Sistema Globo