17/11/2019

João de Deus diz continuar a ¨operar milagres¨ na cadeia João de Deus diz continuar a ¨operar milagres¨ na cadeia




As obras do médium João de Deus são conhecidas e contraditórias. De um lado estão suas cirurgias espirituais, que lhe renderam uma legião de fiéis, pacientes famosos e uma fortuna avaliada em pelo menos 100 milhões de reais. De outro, os crimes sexuais que cometeu, conforme denúncias apresentadas por mais de 600 mulheres ao Ministério Público. Preso preventivamente desde dezembro passado, João de Deus, o criminoso, ainda faz “milagres” atrás das grades, segundo o relato de seus advogados. Eles contam que na madrugada do último dia 4, detentos do Núcleo de Custódia de Aparecida de Goiânia, onde o médium está encarcerado, tiveram de amarrar com lençóis um dos presos, que estaria “possuído”. Mesmo contido, o homem se arrastava pelo chão com uma força descomunal e causava apreensão nos companheiros de cárcere. Ao chegar para trabalhar, um funcionário do presídio, espantado diante da cena, correu para a cela de João de Deus e pediu ajuda para conter o “endemoniado”.

Apoiado em um detento e em sua bengala, João de Deus, cujo estado de saúde piorou bastante desde a prisão, caminhou até o local da confusão e ordenou aos presos que soltassem o colega. Em seguida, evocando o afamado médium de outrora, fez uma oração em língua desconhecida e sentenciou: “Abra os olhos”. Como num passe de mágica, o “possuído”, o “endemoniado”, teria encontrado a paz. No dia seguinte, os advogados Marcos Maciel Lara e Anderson Van Gualberto, que atendem João de Deus, pediram a ele que contasse em detalhes o que ocorrera. A dupla estava preocupada com a possibilidade de que os detentos tivessem feito um jogo de cena como forma de atraí-lo e depois matá-lo. 

Uma pessoa próxima alega que ele continua a prestar serviços espirituais a figuras importantes dos três poderes, que, diante das circunstâncias, passaram a optar pelo atendimento às escondidas. Ao ressaltar esse ponto, o médium tenta convencer a opinião pública de que a espiritualidade do cliente não era mero pretexto para a série de crimes sexuais dos quais ele é acusado. Há dois meses, João de Deus teria enviado ao ministro aposentado Carlos Ayres Britto, ex-­presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), garrafas de água mineral benzida na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO), onde o médium atendia antes de ser preso. Ayres Britto confirmou a VEJA ter recebido a encomenda, mas disse não se lembrar se foi antes ou depois da prisão de João de Deus. “Ele mandou mesmo uma água benta, uma coisa assim, ao meu escritório. Uma pessoa me mandou, não lembro quem foi. Nem sei se bebi essa água.”

Nos esforços para garantir a libertação do cliente, a defesa afirma até que João de Deus é impotente desde 2015 e sofre de sérios problemas de saúde, como hipertensão arterial, insuficiência coronária e cardiopatia. Sob a alegação de que ele poderia morrer na prisão por falta de tratamento adequado, os advogados pediram sua transferência para um hospital. O pedido fracassou. Na quinta-feira 7 houve outro revés: o médium foi condenado em primeira instância a quatro anos de prisão por porte ilegal de armas. De forma correta, com base em provas e testemunhas, a justiça dos homens tem sido implacável com João de Deus.

Redação/Veja.com