12/05/2019

Órfãs do Estado, mães lutam sozinhas para encontrar filhos desaparecidos em SP Órfãs do Estado, mães lutam sozinhas para encontrar filhos desaparecidos em SP





Ivanise Espiridião da Silva procura a filha há mais de 23 anos. Em dezembro de 1995, Fabiana, de 13 anos, desapareceu na cidade de São Paulo. Ainda hoje, a mãe segue sem nenhuma pista sobre o paradeiro dela. Esse é apenas um dos casos entre os 82.684 boletins de ocorrência registrados por familiares de desaparecidos no País, divulgado no ano passado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

De acordo com estudo divulgado em 2017 pelo mesmo órgão, o Brasil registrou oito desaparecidos  por hora nos últimos dez anos, contabilizando 190 por dia. A situação não mudou muito desde então. Ivanise, angustiada pelo sumiço de Fabiana, é uma das mães que entraram em uma busca solitária por seus filhos na capital, e acabaram encontrando força em outras mulheres que vivem pela mesma causa.

“Eu confesso que achei que não iria suportar. Quando você enterra um filho, a dor é enorme. Quando ele desaparece é muito pior, porque você vive a dor da incerteza de não saber se ele está vivo ou morto”, conta. 

Em 1996, Ivanise recebeu um convite para contar seu caso em um episódio da novela Explode Coração, da Rede Globo . Foi quando conheceu Vera Lúcia Gonçalves, que passava pela mesma situação.

Após a repercussão da novela e entrevistas a veículos de imprensa, as duas receberam centenas de ligações de outras pessoas que também procuravam seus filhos. Inspiradas pelo movimento Mães da Cinelândia, do Rio de Janeiro, criaram o coletivo Mães da Sé, que hoje reúne mulheres a cada 15 dias nas escadarias da Praça da Sé, no centro de São Paulo. “Eu sempre vi a praça como grande palco de reivindicação da sociedade civil. Hoje é a Avenida Paulista, mas na época era a Praça da Sé”, conta Ivanise.

Todas as mães ouvidas pela reportagem têm a mesma reclamação: o Estado não faz nada para ajudá-las. Criado há quase 9 anos pela Lei 12.127, e lançado pelo governo federal em 26 de fevereiro de 2010, o Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos  nunca funcionou adequadamente. Atualmente, o sistema tem só 64 casos cadastrados. Os mais recentes são de 2015.

Redação com Último Segundo