12/05/2019

Em missões de paz ou em treinamento, mães militares se destacam no Exército Em missões de paz ou em treinamento, mães militares se destacam no Exército





Neste Dia das Mães a major Luciana de Paiva, 53, vai passar a data longe dos filhos: mais precisamente no Sudão, dentro de um contêiner, possivelmente limpando a poeira da sua farda. Caso seja dia de haboob, nome dado às rotineiras tempestades de areia, vai ser difícil falar com seus dois filhos e com a mãe, porque a internet fica instável.

A major do Exército está há oito meses como gerente de TI na Missão de Paz conjunta das Nações Unidas e da União Africana em Darfur (Unamid). Domingo é dia normal de trabalho por lá, o que Luciana acha bom para "se distrair" e não pensar no Dia das Mães.

"Quando voltar vamos comemorar todos os dias atrasados: aniversários, Dia das Mães. Vamos ter muito para comemorar", disse ela à Folha, por mensagem de áudio.

Assim como Luciana, mães militares se destacam nas fileiras do Exército, em um ambiente ainda muito masculino. Várias enfrentam preconceitos, dentro ou fora dos quartéis, sobre a escolha de viajar para regiões de conflito. Dos 44 militares do Exército em missões de paz atualmente, apenas três são mulheres.

Luciana entrou no Exército pelo Quadro Complementar de Oficiais, primeiro dentro da força a admitir mulheres em áreas como administração, informática e magistério.

O Exército foi a última força a incluir mulheres em suas fileiras. Apenas em 2018 a primeira turma mista chegou na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), onde é possível ter formação de combate.

Ainda assim, elas podem escolher somente Intendência ou Material Bélico, áreas de apoio, enquanto homens podem optar também pelas Armas (Infantaria e Cavalaria, Artilharia, Engenharia e Comunicações).

No último concurso, com ingresso em 2019, foram 320 vagas para homens e 36 para mulheres. A relação candidato-vaga para elas foi mais do que o triplo da concorrência dos homens. O Exército reconhece que há demanda feminina, mas diz que as vagas são menores porque elas não podem optar pelas Armas. Essa abertura, segundo a força, está em estudo, mas ainda não há prazo para ocorrer.

Antes de entrar para o Exército, Luciana era soldado da PM do Rio. Ela fala inglês, árabe básico, faz doutorado e é da seleção olímpica de carabina.

A sua decisão de ir para o Sudão foi tomada com a filha mais nova, de 16 anos. Luciana é divorciada e, segundo ela, o pai não mantém contato com a menina. Por isso, ficou sozinha em Curitiba, onde as duas moram. A adolescente faz compras, cozinha, paga as contas da casa e as da avó, que vive no mesmo prédio.

Segundo a pesquisadora sênior do Instituto Igarapé, Renata Giannini, que fez um levantamento com militares sobre a presença das mulheres no Exército, ainda há uma dificuldade em aceitá-las no combate, especialmente as mães.

Redação com Folhapress