14/03/2019

Comandante analisa em artigo situação do Boeing 737 8Max Comandante analisa em artigo situação do Boeing 737 8Max





Reflexão ao recordar o momento em que visitei o protótipo do B737-8Max, o "avião do momento".

Quando em 2016 tive o convite de um conhecido da Boeing para visitar este protótipo, respondi quando questionado sobre o que achava do avião: se não teria já sido altura da Boeing ter apostado num modelo completamente novo, em vez de fazer mais um conjunto de extensões e melhorias de um avião lançado nos anos 60 e que foi um autentico cavalo de trabalho - de muito sucesso - ao longo de décadas na aviação! 

No entanto foi-me explicado e bem, que as companhias querem aviões a baixo custo para responder à procura do mercado low cost. Note-se que tal não quer dizer que esse tipo de modelos melhorados e actualizados - do lado da Boeing o 737Max - 7,8,9 e 10 e do lado da Airbus a família A320 Neo que inclui os A319Neo, 320Neo e 321Neo - não sejam seguros!!! 

São seguros, seguindo todas as regulamentações de certificação que a aviação exige!

No entanto, no caso do B737Max a adaptação dos novos motores a uma plataforma já existente, onde se queria alterar o menos possível, como por exemplo o tamanho do trem de aterragem, fez os motores ficarem com um ângulo de incidência diferente, que interfere no comportamento do avião, em determinadas situações. Para auxiliar os Pilotos nessas situações, a Boeing desenvolveu um sistema automático que corrige e melhora esse comportamento na pilotagem! Mas há suspeitas por parte dos investigadores de que esse automatismo possa ter tido reacções e comportamentos que a tripulação do acidente da Lion Air, teve dificuldade em controlar. Ainda decorre a investigação!

Aqui levanta outro problema: a formação de tripulações! 

Sim é regulamentada, mas infelizmente a pressão exercida em especial pelo conceito "low cost" tem originado a que as entidades aeronáuticas supra nacionais como a EASA da Europa, tenham "fechado" os olhos a certas exigências indo algumas vezes atrás de conceitos errados de que os automatismos auxiliam os Pilotos, podendo assim reduzir-se certos aspectos do treino. 

Em alguns casos, começou-se por reduzir o número de horas dos cursos de pilotagem para valores como apenas 150/160 horas de voo, noutros a ausência de formação com a presença de instrutor, apostando imenso em e-learning, redução nas horas e sessões de simuladores, entre outros "cortes"! Sim tal não é novidade, basta estar atento aos que as escolas e certas companhias "vendem"!

Mas os media que nada se interessam pela industria da aviação, apenas aparecem quais abutres, quando há acidentes, mas sem investigar verdadeiramente estes pontos, que deveria levar todos a perceberem algo que há anos quem me conhece, me houve dizer e escrever: NÃO HÁ AVIAÇÃO LOW COST.....!

Portanto, não se deixem impressionar pelo que a imprensa espalha sem nada saber sobre o tema, buscando por vezes comentadores que mais valia estarem calados, por de nada entenderem do que afirmam! 

Em aviação não há achismos... e muitos graças à "cultura da bola" acham-se os maiores treinadores de bancada, percebendo tudo de coisa nenhuma... 

O transporte aéreo é o mais seguro! Estará a passar por uma fase de enorme crescimento ao mesmo tempo que ocorre a introdução de muita tecnologia que permite mais eficiência, em especial ambiental e de conforto! Mas ao mesmo tempo também está a lutar com falta de meios humanos, de gente que goste de voar, de trabalhar em aviões - algo que há anos eu já vinha identificando e alertando quem de direito, mas.... 

Por vezes há que corrigir a trajectória, no sentido de nunca se perder o focus final: a segurança de voo! 

No passado, outros aviões bem conhecidos de diversos construtores, também deram problemas, mas não foi por isso que a industria não deixou de responder! 

Mas há algo que não se pode perder de vista: o factor humano é preponderante na aviação, havendo que apostar cada vez mais na sua formação de qualidade!

Bons e seguros voos a todos!

Comandante João Roque Santos - TAP -


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