09/02/2019

No IML, corpos de atletas e de vítimas da guerra urbana exibem um Rio caótico No IML, corpos de atletas e de vítimas da guerra urbana exibem um Rio caótico





Moradora do morro da Mangueira, Bianca Silva ouviu uma resposta inesperada ao perguntar na recepção do Instituto Médico Legal, no centro do Rio de Janeiro, sobre o paradeiro do filho Lucas, de 18 anos. 

Mais cedo, ela tinha recebido pelo WhatsApp a informação de que Lucas teria sido um dos 14 mortos da matança na comunidade do Fallet Fogueteiro naquela mesma manhã, e buscava saber se o corpo do garoto havia sido identificado. "Você vai ter que voltar amanhã", disse um investigador da Polícia Civil no balcão do IML. "Por causa do ocorrido no Flamengo, a cota de corpos de hoje já foi atingida. Novos corpos só serão reconhecidos amanhã."

A chegada dos dez cadáveres de adolescentes mortos no incêndio do centro de treinamento rubro-negro fez os funcionários do IML deixarem para depois a identificação das vítimas do confronto da polícia contra traficantes, na área central do Rio. As duas tragédias aconteceram ontem, em um intervalo de poucas horas.

Na porta do instituto forense, familiares dos mortos na operação policial precisaram desviar de um batalhão de jornalistas a postos para registrar a chegada dos parentes dos jogadores. "Não somos do caso do Flamengo", eles diziam, abrindo caminho entre as câmeras e microfones.

No meio da noite de ontem, no estacionamento do órgão, chorou inconsolável o zagueiro do Vasco, Werley, primo e mentor do também zagueiro Pablo Henrique, de 14 anos, que morreu no alojamento rubro-negro. Ali também chorou uma mãe que perdeu dois filhos na operação na Fallet Fogueteiro, um avô que tentava liberar o corpo do neto, e uma esposa, Miriam, que lutava para conseguir o atestado de óbito do marido Ricardo, assassinado e carbonizado, supostamente pelo próprio irmão.

Tragédias que se cruzaram numa das cidades mais belas do mundo.

Redação com UOL