29/10/2018

Militares ganham protagonismo com a chegada de Bolsonaro ao Planalto Militares ganham protagonismo com a chegada de Bolsonaro ao Planalto




Como o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) sinalizou, durante a campanha, que terá vários militares no seu ministério — ele próprio é capitão reformado e seu vice, general —, as Forças Armadas vão ganhar protagonismo no futuro governo nunca visto no período democrático do país. Não que isso, necessariamente, agrade ao alto-comando. Integrantes do Exército tentaram blindar a imagem da instituição, descolando-a da de Bolsonaro, por temerem perder a confiança da população num eventual fracasso do novo governo.

Apesar de ser capitão, o presidente será o comandante supremo das Forças Armadas. No núcleo da Defesa, no entanto, a expectativa é de que a corporação continuará prestando o serviço de contribuir com a expertise na engenharia, ciência e tecnologia, e de manter as missões operacionais. “A instituição tem credibilidade junto à população. Leva água para 4 milhões de nordestinos, atende à saúde na Amazônia. E a geração que foi formada vem de outro ambiente, mais conciliador. Não há espaço para os militares participarem de um regime totalitário. Esse risco é inexistente”, assegura um alto-comandante do Exército.

Nos bastidores, há consciência de que o candidato de certa maneira surfou no prestígio que as Forças Armadas conquistaram. “Houve uma transferência de votos para Bolsonaro, mas não queremos a responsabilidade de estar junto”, garante um militar da Marinha. Segundo ele, a força quer exercer seu papel constitucional, “sem interesse, estratégia ou projeto de assumir uma gestão” no governo federal. “Existem oficiais da reserva, que, como cidadãos, participarão do governo. Se alguém da ativa for escolhido, pode pedir licença por dois anos. Se passar disso, é transferido automaticamente para a reserva”, explica.

Na opinião dos integrantes do alto-comando, a margem apertada de diferença de votos também vai obrigar o capitão reformado a dialogar mais, sem espaço para decisões autoritárias. 

No entender do cientista político André Felipe Rosa, há um folclore muito grande com relação aos militares com base no que ocorreu em 1964. “Isso foi em outro momento. Não acredito em ditadura, nem censura. Apenas que os militares vão ter mais voz. Antes eram escondidos pelos presidentes. Como Bolsonaro é capitão subjetivamente resgatará a credibilidade da corporação”, argumenta. Na reforma da Previdência, Rosa aposta que Bolsonaro não vai mexer na aposentadoria de militares e policiais. “São a base política dele. Se mexer, perde”, calcula.

Redação com CB