19/03/2018

79 candidatos que concorreram às eleições entre 2000 e 2016 foram mortos 79 candidatos que concorreram às eleições entre 2000 e 2016 foram mortos




A relação entre a milícia e os políticos virou tema de estudo na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). O levantamento mostra que 79 candidatos que concorreram às eleições entre 2000 e 2016 foram assassinados. Na última disputa, em 2016, a morte de 13 políticos recai sobre os milicianos. Embora o estudo nada tenha a ver com o crime praticado contra a vereadora Marielle Franco (PSol-RJ), que não estava em campanha, indica os riscos enfrentados pela classe política na capital fluminense. Além dos casos de violência, existem também parlamentares que são financiados pela milícia para atuar a favor dela.

Do total dos assassinados, 63 (80%) disputavam o cargo de vereador, seis queriam ser prefeito, e, três, vice-prefeitos — ou seja, 91% dos casos no âmbito municipal. “A questão é a seguinte: a assombração sabe para quem aparece. Nunca fui procurado por ninguém de milícia querendo fazer negócio nem ameaçado por nenhuma razão. Os caras que praticam esse tipo de assédio com os políticos são bandidos. É um erro chamar aquilo de milícia. Tem que chamar de bandido. São delinquentes. E assim devem ser tratados. Matam pessoas, dão surra em outras. Na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e na Câmara Municipal, temos casos ainda piores. Tinha um cara chamado Jerominho, vereador e miliciano, que foi cassado. Tinha os votos de uma comunidade porque dava cesta básica”, explica o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ).

Segundo o parlamentar, Jerominho faturava dinheiro vendendo botijão de gás e fazendo ligações clandestinas de tevê a cabo e até de energia elétrica. Também vendia espingardas. “Era o poder das armas e a corrupção eleitoral associada à mesma pessoa. Há uma complexidade nessas coisas.” Miro também explica que esse envolvimento contribui para o empoderamento das milícias no Rio, pois “não é apenas a violência que causa esse caos na nossa política”. “O acesso das milícias à cúpula do Legislativo e do Executivo também atrapalha o combate à violência.”

Para o cientista político Antônio de Pádua, professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), “o que a população espera é que essa intervenção do governo federal na segurança pública do estado traga resultados”. “As milícias tomam conta da política há mais de uma década, um espaço que antes era do tráfico. Sempre tem alguém da bandidagem trabalhando por trás dos poderosos. E isso não pode continuar.”

Redação com CB