08/05/2025

PODE ISSO, ARNALDO? - Câmara dos Deputados aprova suspensão de ação que pode beneficiar Bolsonaro no STF PODE ISSO, ARNALDO? - Câmara dos Deputados aprova suspensão de ação que pode beneficiar Bolsonaro no STF




A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira(07), por 315 votos a 143, a suspensão da ação penal à qual o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) responde no Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado. O relator do texto incluiu brechas que podem estender o benefício ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O que aconteceu

O texto já foi promulgado pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), e começou a valer. Como se trata de uma resolução sobre um parlamentar da Câmara, não é necessário que ela passe pelo Senado nem que seja sancionada pelo presidente da República. Agora, ela será encaminhada para o STF para que a Côrte suspenda a ação. É o que preceitua a Constituição.

O recurso para beneficiar Ramagem foi aprovado com folga em comissão. Deputados da oposição articularam para levar a proposta, que passou da Comissão de Constituição e Justiça, para plenário no mesmo dia, com a justificativa de que o prazo para analisar o caso é até o dia 18 deste mês. Na próxima semana, a Câmara só realizará sessões semipresenciais. Os parlamentares consideraram que o texto deveria ser analisado com todos votando de forma presencial.

O pedido de suspensão foi apresentado pelo Partido Liberal. O partido de Bolsonaro argumentou que a lei proíbe investigações contra parlamentares após a diplomação. No entendimento da sigla, Ramagem não poderia estar no inquérito que apura as invasões do 8 de Janeiro de 2023.

Eram necessários 257 votos para interromper o processo contra o deputado no STF. Motta manteve o mesmo relator da CCJ no plenário: o bolsonarista Alfredo Gaspar (União-AL). Apenas a Federação PT, PCdoB e PV, Federação PSOL-Rede, PSB e PDT foram contrárias a ação.

Gaspar foi promotor de Justiça antes de ser eleito deputado. O relator evitou limitar o alcance da suspensão da ação penal, o que pode beneficiar Bolsonaro, ex-ministros e oficiais das Forças Armadas no processo por tentativa de golpe de Estado no STF.

“Querem trancar a ação penal do Bolsonaro depois que esse Parlamento foi depredado. Eu digo, palavras duras, deputado que vota nisso está fazendo uma depredação simbólica do Parlamento, das instituições democráticas brasileiras. Esse voto, desculpe a força das palavras, é uma vergonha. Nós somos pela Constituição. Nós queremos um julgamento livre dos envolvidos na tentativa de golpe de Estado, sem anistia”, comentou Lindbergh Farias, líder do PT na Câmara.

Sobre o relator, ele avalia que há motivos para suspender a ação penal contra Ramagem. “Não resta alternativa a esta Casa que não o sobrestamento [interrupção] da ação penal em sua integralidade”, defende em um trecho do parecer.

“Constata-se que estão preenchidos os requisitos autorizadores para sustação da ação penal contida na Petição n. 12.100 [tentativa de golpe], em curso no Supremo Tribunal Federal”, afirmou Alfredo Gaspar (União-AL), em parecer a favor de Ramagem.

Argumentação jurídica

Ramagem é acusado de fazer parte do “núcleo crucial” da tentativa de golpe. O parlamentar dirigiu a Agência Brasileira de Inteligência(ABIN) no governo Bolsonaro e teria usado a estrutura da instituição para desacreditar o sistema eleitoral, de acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República.

O PL sustenta que o parlamentar não pode ser investigado. A justificativa é que, a partir da diplomação como deputado, em 19 de dezembro de 2022, Ramagem é beneficiário da imunidade do mandato. O partido ainda argumenta que a Constituição permite ao Congresso interromper inquérito contra um de seus integrantes.

O alcance desse benefício gerou embate com o STF. O PL entende que todo o processo deve ser interrompido e a ação por golpe não pode prosseguir enquanto Ramagem tiver mandato.

O Supremo discorda dessa leitura. Presidente da Primeira Turma, onde corre a ação por tentativa de golpe, o ministro Cristiano Zanin avisou à Câmara que a Justiça interpreta de outra maneira. Ele informou que somente dois crimes atribuídos a Ramagem deixariam de ser julgados: dano qualificado e deterioração do patrimônio tombado.

O deputado continuaria respondendo por:

-Abolição violenta do Estado Democrático de Direito;

-Tentativa de golpe de Estado;

-Associação criminosa armada.

A discussão é importante para a manobra que pode salvar Bolsonaro. Deputados governistas dizem acreditar em abertura de precedente, se toda a ação contra Ramagem for suspensa. Eles esperam que ocorra pedido de extensão do benefício para o ex-presidente.

O líder do PT, Lindbergh Farias (PT-RJ), chamou o caso de “puxadinho para a anistia”. A esquerda acredita que a suspensão de toda a ação penal será derrubada pela Justiça, mas servirá para os bolsonaristas inflamar ainda mais a sua militância contra o STF.

Redação com UOL / Imagem ilustrativa: Reprodução YouTube