31/03/2024

REGIME MILITAR - Os 60 anos da tomada do poder no Brasil são lembrados timidamente REGIME MILITAR - Os 60 anos da tomada do poder no Brasil são lembrados timidamente




O presidente do Superior Tribunal Militar (STM), o brigadeiro Joseli Camelo, revelou em entrevista neste fim de semana, as suas impressões sobre a implantação do  regime militar de 1.964. Março é o mês em que a chegada dos militares ao poder completa 60 anos. “Quando a gente estuda história, não fala em golpe”, disse.

O oficial apontou que não concorda com o uso da palavra “golpe” para descrever o início do regime no país. Mas repetiu o argumento utilizado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que o Brasil não precisa falar desse passado.

“Nós temos acertos e temos falhas. Da maneira com que aconteceu a revolução, naquele primeiro momento, foi uma coisa necessária. Até nem gostaria de entrar nesse detalhe, porque acredito que nós deveríamos pensar no momento atual, não olhar para o retrovisor e pensar no futuro”, afirmou Camelo.

“Tivemos acertos, e tivemos erros, que devem ser corrigidos para o futuro. Não adianta nós acharmos que vamos mudar o passado. Nós vamos aprender com as lições que tivemos no passado. Era um outro momento. Nós tínhamos a bipolaridade, e isso acabou. Tínhamos um comunismo vindo forte, e isso acabou, isso não existe. Isso, para mim, é uma utopia nos dias de hoje”, afirmou o brigadeiro.

“Temos que pensar que é um momento que brasileiro nenhum quer de volta. Militares, civis, empresários, religiosos, nós não queremos. Nós queremos a democracia. Temos que pensar nesse momento que estamos vivendo, em que houve — supostamente — alguma tentativa de quebrar a democracia do país, é nisso que temos que nos preocupar. Não temos que nos preocupar com o passado, não vamos olhar para o retrovisor”, acrescentou com exclusividade ao canal  CNN-Brasil.

Joseli Camelo tem 55 anos de carreira militar. Antes de entrar no STM, atuou no assessoramento militar da presidência da República, tendo pilotado o avião presidencial nos governos Lula e Dilma.

Para o presidente do STM, em janeiro de 2.023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou “decisão muito certa” de não ter autorizado o uso de forças militares por meio de uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

Para ele, demandaria muito tempo colocar homens das Forças Armadas nas ruas porque a operação exigiria mais planejamento. Sobre o convívio entre governo e militares, o oficial pregou que “o relacionamento tem sido da mais alta sinceridade”.

Apesar de possuir orçamento equivalente ao do Supremo Tribunal Federal, o STM apresenta comparativamente baixa produtividade, ou seja, decide menos casos do que a Côrte suprema.

O ministro atribuiu ao fato de existirem menos juízes militares no país do que na Justiça comum. “A gente não para de ter processo. Nós estamos sempre julgando. Qual é o preço de ter Forças Armadas eficiente? É nisso que precisamos ter uma análise mais profunda”, defendeu.

No atual momento, a justiça militar articula junto com o Congresso a reserva de uma vaga no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), onde atualmente não há representante do STM. “É uma das lutas que estamos enfrentando”, afirmou.

Em outro sentido, o Congresso também analisa medidas para diminuir o poder de militares no âmbito político. A PEC dos militares impede a candidatura eleitoral de militares na ativa.

Ao contrário do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que não reconhecia a ruptura democrática e comemorava a data, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu ignorar o acontecimento.


Fontes do governo confirmaram, dias atrás, que o ministro da Defesa, José Múcio, avisou ao presidente que os comandantes de Exército, Marinho e Aeronáutica concordaram em não se manifestar neste domingo.

O senador Hamilton Mourão (Republicanos) celebrou neste domingo, 31, a data que marcou o início do regime militar no país. Em publicação no X, o antigo Twitter, o ex-vice-presidente da República afirmou que “a Nação se salvou a si mesma”.

O Comando do Exército decidiu não intervir na reverência ao dia 31 de março mantida no quartel em Juiz de Fora (MG) de onde partiram as primeiras tropas para a implantação do regime de 1.964.

Em nota, o Exército evitou chamar o episódio de golpe. Disse que “os acontecimentos de 31 de março de 1964 representam um fato histórico enquadrado em uma conjuntura de 60 anos atrás”.

“O Exército está focado no cumprimento da sua missão constitucional e busca elevar a qualidade da execução das suas tarefas, colimando seus esforços na modernização da Força e nos desafios do futuro”, disse o órgão.

Redação com CNN-Brasil e Agência Brasil / Imagens: Reprodução Ag. Brasil